O Criptopórtico de Aeminium

É o edifício romano com a maior área construída conservado em Portugal. Reflecte a importância de Coimbra em época romana.



Aeminium foi o nome de Coimbra em época romana. Fundada como cidade ao tempo de Augusto (27 a.C. – 14 d.C.), o primeiro imperador de Roma, foi uma das mais importantes cidades do Norte da província da Lusitânia. Essa importância resultou da sua localização estratégica: num corredor natural de sentido Sul/ Norte, e entre planuras abertas ao oceano, ligando-a ao vasto império, e o interior montanhoso, por onde corriam rios (sobretudo o Alva) cujas areias eram ricas em ouro.

A cidade romana estendia-se pela colina hoje ocupada pela Alta de Coimbra, onde se destaca a Universidade. No centro da cidade antiga e actual, sob o Museu Nacional de Machado de Castro, encontra-se um dos mais bem conservados criptopórticos do mundo romano, sobre o qual foi erguido o fórum – o principal espaço público de Aeminium.

Construído por volta do ano 50 d.C., ao tempo do imperador Cláudio, veio substituir outro menos monumental, erguido décadas antes, quando a cidade foi fundada. A necessidade de vencer o acentuado declive da colina ditou a construção do criptopórtico: os seus dois andares de galerias serviram de plataforma de assento ao fórum.O edifício romano com a maior área construída conservada em Portugal é este criptopórtico. Surpreende pela sua extensão e grau de conservação.

As longas galerias abobadadas, percorridas na penumbra de outrora por quem fugia à agitação da praça do fórum, reflectem algumas das principais características da arquitectura romana: a solidez e o rigor das dimensões, mas também a utilização de novos materiais ou de novas formas de construir.

No criptopórtico, encontra-se exposto um notável conjunto de esculturas. Retratam as imperatrizes Lívia e Agripina e os imperadores Trajano e Vespasiano (este busto seria originalmente de Nero, o imperador que caiu em desgraça). Pertenciam a grandes estátuas colocadas na praça do fórum. Noutra galeria, encontram-se inscrições funerárias.

Assinalavam sepulturas que compunham os espaços funerários da cidade, situados logo depois das portas da muralha e junto das vias que ligavam Aeminium a outras cidades vizinhas, como Conímbriga, Talábriga (Cabeço do Vouga, Águeda) e a Splendidissima civitas (Bobadela, Oliveira do Hospital).

O edifício do Museu Machado de Castro (que em épocas medieval e moderna foi Paço Episcopal) lembra o antigo fórum: desenhado em redor de uma praça central descoberta, com paredes assentes nas do criptopórtico, e com uma varanda porticada (a loggia renascentista), semelhante àquela com dois andares que corria ao longo da fachada principal do edifício romano e que atingia 30 metros de altura, uma das mais altas do Portugal Romano.

Há dois mil anos quem se abeirasse dessa varanda do fórum poderia olhar o Munda (o nome do Mondego na Antiguidade).

Um pouco mais ao longe, avistaria o amplo estuário em que este rio se transformava. E quem nesse tempo se dirigisse à cidade, por terra ou desde o braço de mar que, desde a Figueira da Foz, chegava às portas de Aeminium, observava o fórum ao longe, destacado na cidade – o fórum era, neste local, a principal marca do império.

O arquitecto que projectou o criptopórtico e o fórum de Aeminium poderá ter sido o mesmo que desenhou o farol romano da Corunha. O seu nome foi aí gravado na pedra: “Caius Sevius Lupus, architectus Aeminiensis”. Não sabemos se Caius Sevius Lupus era natural de Aeminium ou se, pela notabilidade conseguida com a obra original que projectou na Coimbra romana, se apresentava como o arquitecto de Aeminium. Seja como for, quem desenhou o centro urbano e monumental desta cidade foi um arquitecto particularmente talentoso.

Depois do século IV, o fórum entrou em ruína e as galerias do criptopórtico começaram a ser entulhadas com lixos e restos das paredes desmoronadas. Nas ruínas do fórum, em escavações arqueológicas recentes, encontrou-se uma possível cabeça da deusa Vénus, com escrita cursiva na testa e nas faces: nos derradeiros tempos do império, alguém parece ter escrito “carantonha” nessa cabeça já desfigurada. É revelador, assim sendo, de um tempo novo, em que as divindades de outrora o deixaram de ser.

Coimbra continuou a ser importante no período visigótico, quando no século VI substituiu Conímbriga como sede episcopal, tornando-se morada do bispo de Conímbriga, que aqui se refugiou. A partir de então passou a ser conhecida como a cidade do bispo de Conímbriga. Com essa mudança o nome da cidade também se alterou: Conímbriga – Colimbria – Coimbra.

















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